Aos amigos e familiares:
Quando eu tiver certeza de todas as coisas, aqui, nesta vida atual, me socorram por favor, será um fato, que realmente atestará a minha loucura.
Sabe, vou lhes contar um segredo.
Sempre deixei claro o que sinto e penso mesmo!
Este texto, realmente, trata-se sobre mim, ou melhor, de mim mesmo.
Sempre me achei fora do prumo, no mundo sem rumo. Sempre tive (e tenho) milhares de dúvidas, receios, medos, e muitas vezes invejei aquelas pessoas cheias de si, cheias de certezas, cheias de segurança, cheias de orgulho, que andavam (e andam) sempre de cabeça erguida, tipo assim, como que soubessem todas as respostas, bem como se tivessem respostas a todos os problemas.
E olha, que no meu desvario, pois nesta época, eu estava"doido" mesmo, encontrei várias pessoas querendo me ajudar, e a me "encaixar" neste mundo de perfeição.
Sabe, este mundo onde não existem fraquezas, onde homem não chora, onde família não tem dificuldades, nem brigas, e a verdade, é o céu para uns, os perfeitos, e o inferno para outros, os imperfeitos.
Os perfeitos, sempre cheios de si, cheios de razão e verdades, nunca, em seu orgulho "edificante", em seu pedestal, assumiam sua dependência, ou necessidade de auxílio do outro, ou reconheciam que erravam, e erravam feio, e sob o seu poderoso ponto de vista, convenciam aos outros que pau era pedra, enquanto todos sabiam que era pau mesmo.
Para não contrariar, ou criar confusão, muitos aceitavam e engoliam a seco. (Eu fui um destes).
Para me consertarem, já que busquei ajuda, me entupiram de medicamentos, os quais me impediam até de pensar, de me expressar, de questionar a minha pequenez, a minha humanidade, ainda tão arcaica e falha.
Realmente, aceitando tudo no preto e no branco, eu me esquecia das cores, da poesia, do amor e até do sexo, e realmente enlouquecia, ao mesmo tempo que vegetava e "morria".
A cada confissão, a conta da farmácia aumentava, as sessões de terapia se multiplicavam, e eu me sentia seguro, numa zona de conforto, que já era cova.
Por que temeria a morte, se já estava morto?
E o mundo perfeitinho, me custou a vida, me concedeu a dor, a escuridão, o distanciamento dos meus e de Deus, perdi até a capacidade de trabalhar.
Novamente, na busca de me encaixar, fiquei mais deslocado ainda...
A arte gritava dentro de mim, a poesia saia entre lágrimas, e berros cheios de "por quê?"
Ilusão, realidade, loucura, sanidade?
Querendo viver, me redescobri, imperfeito mesmo, confuso mesmo, cheio de dúvidas, perguntas, o que me revelava um ser em construção...
Eu não estava completo. Aí percebi que os outros também não... Muitos viviam (e vivem) em realidades que não lhes pertence, pois neste mundo, "se está" para a perfeição, os perfeitinhos, já foram para outros céus, outros sóis a muito tempo.
Um dia, até poderei chegar lá, mas o caminho é longo e se faz ao caminhar... E não é fácil como pintam... estes que pintam tanta facilidade, acredite, só sairão da materialidade deste mundo, quando este mundo já estiver melhor e aqui, não aceitarem mais aos que vivem de ilusões. Estes, serão convidados para mundos ainda inferiores.
Louco não? Mas não tenho certeza, louco é quem tem. Mas eu prefiro a loucura de uma vida que continua e sempre evolui, do que um eterno queimar num inferno, ou um eterno marasmo onde nada passa do que é, não evolui.
Não há livre escolha, assim como há a obrigatória colheita?
Blasfêmia, já não é loucura!
Ah, se fosse no tempo das fogueiras.
(Muitos dizem aí em seus corações enquanto lêem).
Mas prefiro esta vida errante que busca conhecer e melhorar, do que a vida certinha que promove zumbis, que apenas se deterioram, fedem, e comem uns aos outros, pois em teus corações não há amor, nem dúvida, nem imperfeição, nem dor... e também não existem.
Acredite, quando, ainda neste orbe eu pensar diferente, por favor, me internem, ou melhor, me enterrem que eu já morri.
By Adalmir Oliveira Campos