A vida da gente dá livros e livros de histórias.
Que passam pelas dramáticas às de terror.
Conta minha mãe que em mil novecentos e bolinha,
estava grávida de minha irmã, e meu irmão mais velho
já estava crescidinho, e parecia um bichinho do mato.
Não ia no colo de ninguém, era manhoso, chorava
horrores, ou seja, o tempo todo.
Minha mãe era obrigada a sair com ele no colo, ir
para o quintal e andar com o mesmo no pomar,
só assim ele calava, e lá ia ela com aquele barrigão e meu
irmão no colo.
Quando chegava alguém estranho, ele estranhava.
Fica escondido por trás da barra da saia de minha mãe.
Nem tio, nem tia, nem avô, nem avó ele aceitava
que o pegasse.
Chegado o dia de minha mãe ganhar minha irmã,
começou a se arrumar, mas primeiro, deixou meu
irmão pronto, limpinho, cheiroso, impecável.
Estava ela a arrumar a sacola, as roupas e o enxoval
da minha irmã, e depois iriam para casa da minha avó,
isso na região rural de Coromandel, na comunidade
de Douradinhos (minha irmã é douradinha rsrsrs),
tudo pronto.
O carro a carroça já estava preparada, tudo arrumado.
E minha mãe foi buscar meu irmão e grande foi a surpresa.
O menino estava brincando, acredite, com o próprio coco.
Coisa de criança, Freud explica. Ele passava o pente no coco
e vazia dele um gel, creme de passar no corpo e por ai vai.
Todo lambuzado.
Minha mãe disse que até chorou na hora, a vontade era de
bater no moleque.
Imagina só, ela com aquele barrigão, ao ponto de ganhar um
bebê tendo que ir para o banheiro lavar o moleque do meu
irmão.
Assim ela fez, coitada.
E foram para casa de minha vó. Conta ela, que sofreu muito
e na madrugada, não aguentando de dor, e mesmo não
querendo incomodar a minha avó, chamou-a e foram
dar jeito de chamar a parteira que morava nas proximidades.
E não é que o danado do meu irmão acordou e começou a berrar
feito bezerro novo, e nada fazia ele calar.
Meu avó estava com a perna machucada e mancando e
mesmo assim, durante todo o trabalho de parto, que não
foi fácil, ficou com meu irmão no quintal e no colo.
Diz minha mãe que pensava que morreria naquele dia,
de tão difícil que foi o parto. Mas num é que de manhãzinha
já estava a dividir o colo com meu irmão mais velho?
É cada coisa que mãe passa nessa vida.
Mas com certeza ela não se arrepende, tudo que faz é
para os filhos, e por amor a eles.
Depois da minha irmã veio outro meu irmão e por último
e espaçado tempo eu, mas ai, são outras histórias.
By Adalmir Oliveira Campos
adalmir-campos.blogspot.com.br