Tem dias que acordamos com a pulga atrás da orelha, aí, a gente coça e percebe que acordou com a macaca,
e onde foi-se a graça neste jogo mundano de sermos filhos de Deus, feitos à sua imagem e Semelhança, num cair terreno em busca de santificação, obediência, subserviência?
Ontem me disseram para orar pedindo proteção, orar para ter um sono tranquilo, orar pra não ter pesadelos, orar pra não sofrer, não sentir dor...
Como se Deus não soubesse do que precisamos, e como se o mesmo pudesse intervir.
Qual a necessidade da oração,
digo, desta, que fazemos como pedintes de bençãos, de prosperidade, de que nada nos falte e que a dor, o sofrimento as enfermidades,
as deformidades do corpo, da mente, da personalidade, da alma, vão para o raio que os parta?
Dizem que estamos aqui, responsáveis e escravos das consequências de nossos atos/escolhas, como se Deus não fosse compassivo, piedoso, misericordioso e não soubesse o que é perdão,
um Deus que diz faça o que eu falo, o que está escrito, mas não façam o que eu faço, mais parece os políticos, os pastores e mestres, e outros que governam as massas.
Ainda são tantos sacrifícios diante do altar, ainda são imoladas as ovelhas, surradas, sofridas, humilhadas, jogadas às traças!
E Deus, e os anjos, de nada sabem? Se o sabem, gostam de nos ver implorar por ajuda, por sua benção?
Sei lá, que Deus é este que inventamos, ou que nos inventou,
que precisa de tanta atenção, de tanta demonstração de amor, de que é querido, de que detém todo poder, todo reino e toda a glória?
Blasfêmia, dizem!
Blasfêmia, e quem blasfêma tem garantida a entrada no inferno, para as blasfêmias ao Espírito Santo, não existe perdão.
Mas que Deus é este, que nos coloca pra ralar ostras, que nos coloca pra agradecer a tudo sem reclamar,
como que, se emoções e sentimentos não tivéssemos, como que dor fosse prêmio ou moeda de troca pra liberdade, pra ser feliz, pra céu...
Não é sobre corações de carne ao invés de corações de pedra?
Sei não! É Deus ou é Demônio, ou o é a ambos?
Um Deus que nos arranca do presente, nos põe em um passado sofrido, surrado, num loop que parece não ter fim, gerando depressão e transtornos outros,
um salto no escuro, do alto, muito alto, e sem paraquedas.
Um Deus que nos tira do presente e põe num futuro que dizem que é o certo, e nos enche de ansiedade e transtornos outros,
e incerto, é o presente, tudo o que se vive, e entrar pelo buraco da agulha é algo tão complexo,
que como superando o presente, saltássemos para o futuro, e magicamente alcançássemos a pureza dos Deuses,
e direito a céus ou inferno, caso dê (desse) errado, e o passado, é a mancha ou a Glória.
Pra mim, oração era estar presente, era ser e estar, este ser e estar em presença,
e Deus ali junto, como quem casa com Cristo e se tornam uma só carne e um só espírito,
e nada mais precisasse pedir ou falar, e o que me apresentam a não ser um relacionamento com um Ser tóxico, abusivo,
hoje, mais entendido como um narcisista?
Pensava que assim, eram os homens e não Deus!
Se somos uma só carne, um só, neste pão que o diabo amassou e nós comemos,
e do vinho pisado a pés descalços, um só corpo, um só espírito,
o que não sabe um, que o outro não saiba?
E se um não ajuda o outro, é por questões outras, ora inconscientes, ora consciente,
mas é Deus, um ser que funciona como humanos e espíritos ainda inferiores, embora semelhantes?
Qual Pai ou Mãe que vê o filho descalço, passando fome, com sede, sofrido, enfermo, assombrado, manipulado por demônios e espera o mesmo pedir socorro ou ajuda?
Que anjos são estes que esperam os filhos de Deus se humilharem em prantos, em dor, para somente depois irem em socorro?
E a culpa é de quem, e a responsabilidade é de quem, e o peso das consewuências é de quem?
Até parece que somos criadores de tanto caos, morte e fomes.
Se semelhante atrai semelhante, não bastava buscar se parecer mais e mais com Deus?
E se o temos feito, feito está,
é Deus e filhos deste, demônios a infernizarem a vida uns dos outros,
pregando preconceito, fomentando discriminação, esteriótipos, crenças doentias, limitantes, dogmas religiosos, segregação, xenofobia,
intolerância religiosa, racismo, LGBTfobia/discriminação de gênero, capacitismo, violência doméstica familiar, no trabalho,
sexismo, objetificação sexual, misoginia, etc..
Sei lá, só me resta questionar, que Deus é este, que filhos são estes,
feitos à tua imagem e semelhança, quem, espelha quem, nesta história, faca de dois gumes?
Para quem estamos orando, rezando, é pra quem, é contra quem, e se somos semelhantes, se vibramos igual, tal bem, tal mal, recai sobre quem?
Orar é vibrar semelhante, orar é equiparar forças, orar é desfazer diferenças, orar é colocar por terra o ódio, o desamor,
orar é pôr a mão na massa, orar é arregaçar as mangas, orar é acolher o caído sem olhar a quem, orar é a caridade que se faz, mesmo que invisível, em boas intenções,
orar é ser estas boas manifestações acontecendo, sem trocas ou escambos, sem negociações, pedidos ou clemência,
e quem tem olhos para ver, sentidos outros para sentir, agir?
Ou o morimbundo caído à beira da estrada, todo pisoteado, massacrado, inconsciente, teve que se ajoelhar para pedir ajuda a Deus e somente depois, lhe apareceu o bom samaritano?
Espera-se os outros pedirem para sustentarem seus Egos inflados, suas crenças de que são superiores, que são melhores, que estão em condições de perfeição,
e estender as mãos, é prova que se dão da sua supremacia sobre os outros, confirmação de que estão sob pedestais de ouro e cristais, diamantes,
hétero, branca, paternalista, patriarcal, ideal, perfeita, santificada,
cuja as migalhas selam os acordos, onde se perpetuam pedintes e senhores, e até quando?
Semelhantes o caralho, diria os mais revoltosos!
Que Deus é este? Que semelhantes são estes? Que oração são estas? Senhores e escravos? Santos e pecadores? Ricos e Lázaros?
Quem é quem, quem somos, quem está, quem esteve, onde estaremos, o que viremos a ser e estar?
Semelhantes o caralho!
E as provas estão aí, e só não vê quem não quer, se a verdade salva e liberta, talvez seja o motivo de a termos negada a nós,
num viver de fantasias, diante de tanta realidade às avessas, destas, que distanciam "o ser assim na terra como o é nos céus,"
e que promessas são estas que não se cumprem?
Caralho!
Por Adalmir Oliveira Campos
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